Na postagem anterior,
falamos bastante sobre governo. Expliquei como o conceito de governamentalidade é
um conceito que surge na obra de Foucault na segunda metade da década de 1970. Agora, dando continuidade, irei falar mais detidamente de como foi traçada a genealogia dessa arte de
governar moderna, qual sua origem e quais fases foram atravessadas para que
pudéssemos chegar aonde chegamos hoje. Para isso, partirei do curso que
Foucault ministrou em 1978 no Collège de France que já mencionei antes,
“segurança, território, população”.
Poder Pastoral
Sabemos já que
governamentalidade tem a ver com um certo tipo de governo. Foucault observa que
a particularidade dessa noção de governa é que ela se trata, antes de tudo, de
um governo dos homens. O que se governa não somente coisas, mas principalmente
pessoas. Trata-se de dirigir a maneira como eles se comportam, como vivem, que
práticas adotam e que valores cultivam. Essa arte de governas pessoas, esse
governo enquanto governo de homens antes de ser um governo de coisas, dirá
Foucault, é uma prática sem precedentes na antiguidade clássica ocidental. Nos
gregos, é verdade, podíamos encontrar a metáfora de que o governante atua sobre
a pólis como um capitão sobre um navio. Mas mesmo aqui não há comparação
suficiente, pois se o capitão governa algo, é o navio como um todo, e só tem
ingerência sobre o que fazem os membros da tripulação na medida em que estes
interferem no curso do navio. O governante da pólis está interessado no futuro
da pólis como um todo, e não em manter em controlar e orientar a vida de cada
um dos cidadãos até nas minúcias de sua casa, o que para o pensamento político
grego antigo seria um contrassenso. De fato, a ideia de que o governante atua
como que um pastor dos homens, guiando-os e dirigindo-os em todos os âmbitos de
sua vida, teve suas raízes na tradição hebraica, mas só foi adquirir maturidade
nas comunidades cristãs, e que depois foi transportada para o modus operandi da
Igreja enquanto instituição. É esta prática, de caráter pastoral, que está nas
raízes do que veio a ser a governamentalidade.
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Michel Foucault (1926-1984) |
E como se define este
poder pastoral? Vejamos algumas de suas características. Primeiro, ele se
vincula a um grupo, e não a um território. Um indivíduo está submetido ao
pastorado não porque se encontra dentro de uma porção territorial demarcada
geograficamente, mas sim porque está inserido numa coletividade que por sua vez
é dirigida por um pastor. O pastorado se exerce sobre o grupo, esteja este onde
estiver, e acompanha o grupo quando se desloca. Segundo, ele é orientado para a
salvação. O poder do pastor sobre as ovelhas não se apresenta como o poder de
subjugar os adversários ou de esmagar os inimigos, mas sim como o poder de
mostrar o caminho correto que leva à salvação, de dirigir e guiar no sentido
daquilo que é bom e correto. Poder benfazejo, portanto. Terceiro, embora tenha
abrangência coletiva, tem aplicação individualizada. Quer dizer, o poder
pastoral envolve o controle de um grupo, sim, mas esse controle é exercido
sobre cada um dos integrantes individualmente. É uma fiscalização em que cada
um precisa de tempos em tempos se submeter a práticas que procuram examinar
como ele tem se conduzido até ali, se tem agido, enfim, se cada um está
trilhando o caminho corretamente. Observa o que cada um tem feito, quais
desvios cada um tem cometido; orienta e corrige cada um com atenção
individualizada.
O que é interessante a
respeito do vínculo estabelecido pelo poder pastoral é que ele não é feito para
terminar. E isso o distingue de qualquer outra modalidade de relação social que
se viu na Antiguidade ocidental. O vínculo entre o sofista e seu aprendiz no
mundo grego, por exemplo, é feito para durar só o tempo necessário até o
aprendiz adquirir o expediente retórico que pretende. Assim como o vínculo
entre o estratego e a assembleia dos cidadãos se mantém apenas na medida em que
este serve aos propósitos do bem da pólis com legitimidade. A ovelha, por outro
lado, nunca atinge um estágio em que possa prescindir do pastor, justamente
porque o fim do pastorado é a salvação. E a salvação não se alcança sem um guia
ao qual se mantenha fiel por toda a vida
Razão de Estado
Muito bem. E como foi
possível que esse governo pastoral, que até então parece tão teológico, pôde
ser transposto para a política estatal? São vários fatores que Foucault aponta.
Vamos tratar só de dois. Um tem a ver com a derrocada de uma visão teleológica
de mundo. Com o surgimento das ciência, a ideia de que as coisas do mundo se
movimentam para um propósito último vai sendo substituído pela ideia de que as
coisas obedecem a leis mecânicas que nos permitem prever e controlar
acontecimentos. Como consequência, já não faz mais sentido a concepção política
medieval, segundo a qual o problema da política faz parte de uma narrativa
cosmo-teleológica em que o governante dirige os homens sob sua jurisdição como
Deus dirige o cosmos. Agora, as qualidade que precisa ter o bom governante não
são mais as mesmas virtudes que precisa ter uma figura comum. A política deixa
de ser pensada como atividade regida pela mesma ordem natural que rege todas as
coisas, e passa a ser pensada como uma atividade distinta, que enfrenta
problemas que lhe são exclusivos, e por isso necessita de um tipo de
racionalidade próprio, uma forma própria de lidar com esses problemas.
Descontinuidade entre política e teologia, portanto.
O outro fator representa
uma dupla ruptura com duas ideias do imaginário político ocidental. De um lado,
o fim da aspiração política de unificação de todos os territórios para
reconstituir novamente Roma. De outro, o fim da aspiração religiosa da Igreja
de unificação de todos os povos sob a fé católica. Essas duas ideias, que
haviam sobrevivido como esperanças tanto nos sonhos de todo reino que ufanava de
ter raízes romanas, quanto em cada pontificado da Alta Idade Média, encontraram
seu fim definitivo respectivamente na organização que sucedeu ao Tratado de
Vestefália e na Reforma Protestante. Com efeito, o final da Guerra dos Trinta
Anos foi decisivo para afirmação de uma nova ordem política protagonizada pelo
Estado moderno. Cada Estado sendo uma unidade independente dos demais, que
possui sua estrutura interna própria, sua própria história e o controle sobre
determinado pedaço de território e interesses específicos. A partir desse
momento, só o que pode haver é uma convivência entre Estados, mas já não há
qualquer condição para pensar que eles pudessem resolver suas diferenças e se
fundir todo sob um mesmo regime como havia sido Roma. Da mesma forma, a
Reforma, que trouxe uma efervescência de novos credos, tornou para sempre
inalcançável o universalismo católico de transformar o mundo todo em fiéis.
Emergência da unidade Estado e pluralismo irredutível de crenças.
Assim, diz Foucault, a
relação entre um Estado e outro não é simplesmente uma rivalidade entre
dinastias que alimentavam rixas históricas entre si como fora no medievo, mas
sim uma relação de competitividade e concorrência. Na corrida por mercados
consumidores, riquezas e territórios, o que todos os Estados querem é superar
uns aos outros, despontar na frente dos outros com prosperidade e brio. Só que
essa disputa entre Estados, que não teve precedentes nos reinos da Idade Média,
só pode se dar se cada um dos Estados se organizar internamente para tal. Se
ele for capaz de lançar mão do que tem a sua disposição para se impulsionar e
se sobressair sobre os demais. Essa nova organização interna do Estado para
concorrer não será mais pautada numa ordem cósmica universal, como vimos, mas
sim na política definida como atividade que tem regras próprias e meios
próprios.
Para gerar para si a
força necessária, vai ser preciso que o Estado centralize as decisões
políticas, o poder definir o proibido e o permitido. Porém, mais do que tudo,
vai ser preciso que ele instale um controle cuidadoso sobre todas as coisas.
Precisará vigiar o fluxo de moedas, para manter a balança comercial dentro do
esperado. Precisará definir quanto de mercadorias deve ser vendida, a qual
preço, onde e por quem. Precisará controlar a mão de obra disponível, e para
isso precisa, de um lado, fazer com que as pessoas tenham filhos e, de outro,
colocar um freio sobre as doenças. Precisará fazer manutenção das vias públicas
para que pessoas e mercadorias cheguem ao lugar certo na hora certa sem
prejuízo. Precisará inflamar nas pessoas o hábito do trabalho, para que
produzam o quanto devem no tempo certo e no ritmo certo. Precisará, enfim,
manter um olho incansável sobre os preguiçosos, ociosos, loucos e vadios, para
impedir que eles infestem as ruas. Isso irá envolver uma inspeção sobre a vida
privada de todo mundo. Para saber como vivem, qual religião professa e como
ocupam o seu tempo.
Assim, explica Foucault,
assistimos ao nascimento de um “Estado de polícia”. Um Estado que se coloca na
tarefa de governar de uma maneira totalizante. Faz com que cada coisa seja
colocada onde deve estar para o sucesso da nação. Na marcha da competição
internacional, a arte de governar não se orienta mais pela finalidade
transcendente da salvação, mas pela finalidade imanente da prosperidade. E
lançará mão de todos os meios necessários para que as coisas se mantenham
segundo as regulamentações estabelecidas e o conjunto das metas fixadas.
Isso explicaria, continua
Foucault, por que boa parte da literatura política desta época, sec. XVI- XVII,
é contra Maquiavel. Maquiavel havia concebido o príncipe como um ente externo
ao seu principado. O príncipe adquire o principado pela herança ou pela
conquista, mas ele não é um dos que fazem parta da vida do principado. Em
Maquiavel, também, atividade realizada pelo príncipe é a arte de sua
automanutenção no poder. O bom príncipe é aquele que tem a astúcia de lidar com
a situação qualquer que ela seja de modo que não seja derrubado de sua posição
quer pelas circunstâncias quer pelos seus adversários. Contrariamente a isso,
boa parte dos autores de teoria política que Foucault enumeram acredita que a
tarefa de governar um povo é semelhante a governar uma casa. Assim como o homem
governa sua esposa, seus filhos, seus criados, dirigindo a conduta de cada um
para que o lar seja próspero, o governante faz da cidade a sua casa, em que
precisa governar as mercadorias, os comerciantes, as condutas dos súditos e os
delinquentes. Isso explica inclusive por que a economia, que hoje tem uma
conotação de ordem pública, em sua origem significa governo da casa.
Governamentalidade Moderna
Chegamos ao terceiro e
último momento da nossa história da governamentalidade. Se houve uma ruptura
com o medievo que permitiu o surgimento do Estado de polícia que vimos, o
período do final do sec. XVIII até o XIX apresenta uma outra ruptura, a partir
da qual outra governamentalidade, essa sim basilar para o momento atual, irá
nascer. Essa mudança tem a ver com o salto do crescimento populacional que aconteceu
nesse mesmo período, devido ao começo das atividades industriais e do início da
produção em fábrica. Essa governamentalidade moderna se define sobretudo por
ter tecidos críticas às formas de governar anteriores. Patente nas novas
doutrinas dos fisiocratas, a nova arte de governar acusará o modelo do Estado
de polícia de ser excessivamente invasivo, de tentar regulamentar o que não
deve ser regulamentado e de impor padrões sobre aquilo que já funciona de forma
natural. Vamos ver um exemplo.
Na França do século XVII,
que é um bom exemplar do Estado de polícia, a preocupação com a escassez dos
cereais era uma questão de primeira ordem. Afinal, sendo uma fonte de alimentos
principal, quando faltam cerais há fomes coletivas, e quando há um decréscimo de
mão de obra, afetando a produtividade, assim como insurgências populares e toda
uma cadeia de eventos indesejados. Qual era, então, a atitude do Estado
francês? Uma série de providências para fazer com que não se produzisse a
escassez: proibição de estocagem de grãos e limitação das importações.
Estabelecimento de um preço que impedisse lucros muito altos e deixasse baixo o
custo do grão, para ser atingido pelos pobres. Isso de modo a garantir de
continue havendo um contingente populacional vivo e fisicamente forte o
bastante para trabalhar durante o tempo necessário para o sucesso econômico do
Estado.
Pois bem. Sobre este caso
específico, o que nova doutrina econômica e governamental dirá é que essa forma
de governar é totalmente problemática. Ela pressupõe que seja possível manter
um controle sobre os preços e distribuição de grão segundo padrões dados de
cima para baixo pelo Estado, e que seja possível gerir os lucros auferidos
assim segundo metas dadas pelo governo. No lugar disso, irá propor que entendamos
que escassez de grãos é um fenômeno natural. Ele ocorre quer se queira, quer
não.
Isso porque as relações
sociais de que a escassez deriva, que são de compra e venda, de produção e de
distribuição, já possuem uma forma natural. Elas acontecem sempre segundo os
mesmos padrões, e dentro delas os indivíduos sempre respondem a determinados
estímulos. Não há, pois, como impedir a escassez, como queria o Estado de
polícia. O que se pode fazer, diz a governamentalidade moderna, é determinar
qual o nível não prejudicial de escassez e assim arranjar as coisas para que
esse nível não seja ultrapassado. Não se trata, por outros termos, de gerar a
fartura para evitar a fome. Fome sempre haverá numa ou noutra medida. O que
deve ser evitado é que a fome atinja proporções anormais. Não se trata de
eliminar a fome, mas sim de conduzir a fome que já existe. Um certo
quantitativo de pessoas que morrem de fome é normal, deve-se deixar que isso
ocorre, mas não mais do que esse nível normal.
O conhecimento de quais
são as distribuições estatísticas normais e aceitáveis depende, contudo, de que
entendamos qual o funcionamento das relações sociais de que elas derivam. O que
a governamentalidade moderna propõe, nesse sentido, é que a arte de governar
não é arte de impor padrões segundo os desígnios do Estado, mas sim entender
que o conjunto formado pelos indivíduos já possui uma dinâmica natural, a qual
é preciso preservar em vez de modificar.
É nesse momento da
história que, segundo Foucault, vemos pela primeira vez a ideia de uma
sociedade civil. Claro que muitos antes já haviam dito que os humanos formam
grupos naturalmente e que faz parte da natureza humana a geração de
coletividades. Mas ninguém antes dissera que as própria trocas, a oferta de
produtos, a disponibilidade de recursos, tudo isso também obedece a padrões
naturais que podem ser estudados e catalogados. Que existem reações espontâneas
que qualquer coletividade humana apresenta face à escassez ou abundância. O
conjunto dos indivíduos forma, portanto, um todo que apresenta uma série de
processos naturais (no sentido de que existem espontaneamente sem a intervenção
de ninguém), como mortalidade, natalidade, consumo, poupança. O Estado, então,
é um terceiro para quem esses processos naturais já se apresentam como um dado,
como algo que é fato. Qualquer tentativa de impor ordem sobre essa ordem que já
há não pode resultar em outra coisa que não calamidade e anarquia.
Deve-se então, deixar
acontecer. Laissez-faire, laissez-passer. O modo como Estado irá governar não
será mais o de regrar e regulamentar. Será o de criar condições e remover
empecilhos. Vigiar os status quo para que nenhum fator de fora da dinâmica
natural venha a interferir. Isso não quer dizer ausência de intervenção, mas
reformulação da forma intervir. Governar não é mais regulamentar. Governar é
gerir. Em vez de definir preços, evitar que eles sejam controlados por outra
coisa que não a concorrência. Em vez de regrar o comércio, limpar o caminho
para a competição. Em vez de controlar o número de nascimentos, proporcionar
que eles cresçam de forma segura. Incentivar o aumento da produção ali e
incentivar a redução ali.
Assim, podemos ver as
feições mais evidentes da governamentalidade moderna. Ela encara o coletivo não
mais como um conjunto de súditos que devem obedecer, mas sim como uma
população, como conjunto de processos naturais que é preciso conduzir e fazer
manter dentro de um nível considerado normal.
Não se trata mais de
tentar impor ao mercado, à família, à doença, às migrações leis que elas deveram
seguir segundo aquilo que o Estado entenda que é melhor. As leis que regem cada
uma dessas coisas, diz o novo pensar governamental, já vêm prontas. São parte
da própria natureza de cada um desses âmbitos. Saberemos quais são essas leis
através da disciplina científica que é própria a cada um. Uma arte de governar
os processos das trocas, que se tornou a economia. Uma arte de governar a
dinâmica de população, que se tornou a demografia. Uma de governar os processos
da infância, que se tornou a pedagogia. Uma arte de governar os processos
naturais do corpo, que se tornou a medicina. Uma arte de governar as mentes e a
sanidade que se tornou a psiquiatria.
Governar bem é entender
que cada um desses componentes da vida social possui uma lógica específica, e
precisa ter um espaço de liberdade e não interferência preservado para se
desenvolver adequadamente. A tarefa de bem conduzir a saúde, o mercado, a
loucura, a fome, a miséria, enfim, a população, é saber como e de que maneira
cada um desses pode ser estrategicamente manipulado para que se obtenha os
conformes esperados. É um cálculo que vai dos meios e recursos disponíveis aos
resultados prováveis, na intenção de assim produzir os fins desejados. O
conjunto das técnicas de governa toma para si a tarefa de manter tudo em ordem,
de manter os níveis e as distribuições uniformes, e para isso se vale do saber
técnico que empresta das ciências modernas já constituídas e independentes.
Eis aqui a diferença
entre a normalização das disciplinas e a dos dispositivos de segurança.
Enquanto as disciplinas pretendem regular todos os aspectos de seu objeto,
definindo como normais os que conseguem ser modelados segundo se espera e como
anormais os que não conseguem, o dispositivo de segurança já parte de uma
definição do que será o normal (número de nascimentos, de mortes, de
mercadorias importadas, pessoas migrando, etc.) e então seleciona quais
aspectos de cada desses processos irá manipular e reger, e quais outros deixará
que se desdobrem por si mesmos.
Com o tempo contudo,
Foucault percebeu que cada uma das práticas envolvidas na governamentalidade só
é capaz de funcionar na medida em que ela consiga engajar cada um dos
indivíduos. Isto é, instalar-se como dentro deles e fazer com que eles
controlem a si mesmos de uma forma condizente com a estratégia global. Quer se
trate de disciplina, quer se trate de biopoder, todo dispositivo só se torna
operante na medida em que faz cada sujeito enxergar em si elementos que
precisam ser controlados, corrigidos, normalizados. Seus desejos, seus
rendimentos, seus desempenhos, suas condutas, suas aspirações etc. Em outras palavras, um governo sobre todos só
funciona na medida em que ele seja capaz de induzir em cada indivíduo um
“governo de si”. Isso envolve fazer com que o sujeito passe a adotar uma série de práticas em que o sujeito aprende a prestar atenção em si, a se monitorar e autorregular de uma forma particular, que é ao mesmo tempo efeito e condição de possibilidade das estratégias globais de poder. O conjunto das maneiras pelas quais o sujeito toma a si mesmo como seu objeto de governo foi o tema da terceira e última fase do
pensamento de Foucault, que ocupou os volumes subsequentes de História da
Sexualidade. Mas isso já é assunto para outra postagem.